O caso do jovem Wallison Silva Araújo, de 19 anos, que foi linchado
até a morte por moradores do município de Araioses mesmo após ter se entregado revelou
o baixo número de policiais na cidade.
São
apenas dois policiais militares, um investigador, um escrivão e um policial
civil que atuam em Araioses para uma população de 46.074 pessoas, conforme
última estimativa populacional do IBGE referente a 2017.
Cláudio Cabral
Marques, promotor de Justiça Especializada do Controle Externo da Atividade
Policial , conta que no Maranhão há pelo menos 100 cidades sem nenhum policial
civil e que a Organização das Nações Unidas (ONU) tem uma referência para o
número de militares por número de habitantes.
"A
referência utilizada pela ONU é de que haja ao menos 1 policial para cada 300
pessoas. No Maranhão o caso da Polícia Civil é ainda pior. Nas cidades onde não
há policial civil é preciso que uma delegacia de outra cidade dê conta das
ocorrências", declarou o promotor.
Além desses
números, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontou em 2017 que o
Maranhão possui apenas 1 policial para cada 763 habitantes. A professora da
UFMA e pós-doutoranda em direitos humanos Rosângela Guimarães afirma que o
baixo efetivo policial representa uma preocupação frente a segurança pública no
estado, assim como em todo o país.
“Ainda nos
encontramos com um baixo efetivo frente as demandas sociais. Isto resulta em
restrição das áreas de policiamento, demora no atendimento de ocorrências e
principalmente em ausência ou drástica redução de ações preventivas”, disse a
pesquisadora.
Em Araioses,
além do baixo efetivo policial, o batalhão de Polícia Militar mais próximo fica
em Chapadinha, a 260 quilômetros da cidade. São três horas de viagem até que
algum reforço consiga chegar. No caso da Polícia Civil a regional com maior
efetivo fica na cidade de Barreirinhas, a duas horas e meia da cidade.
O G1 buscou mais uma vez um retorno da
Secretaria de Segurança Pública do Maranhão a respeito do baixo efetivo
policial em Araioses e questionando a logística para casos de emergência na
cidade, mas novamente não houve retorno.
Casos
recorrentes
No caso da
cidade de Araioses, o delegado Raphael Reis comentou que não é a primeira vez
que casos de linchamento acontecem por lá. Nos últimos anos foram três ocasiões
em que a própria população conseguiu ou tentou assassinar um suspeito antes
dele ser preso e julgado. A causa também seria o baixo policiamento na cidade.
“O efetivo é
realmente ínfimo, mas somente no ano passado mais de 400 procedimentos foram
instaurados e mais de 250 remetidos à Justiça. O problema não está em quem
prende”, afirmou o delegado.
Ainda segundo a
pesquisadora Rosângela, um baixo número de policiais em uma cidade também
acarreta a sensação de impunidade, que pode contribuir para o desejo das
pessoas em fazer a própria justiça. O problema se agrava com o falta de
orçamento adequado à segurança pública em todo o país.
“Com a falta de
estruturação das instituições do poder governamental de Estados e municípios
temos, consequentemente, uma maior vulnerabilidade social ao crime e à
impunidade, um aumento da sensação de insegurança e uma propensão ao desejo de
se fazer justiça com as próprias mãos, o que se constitui a uma involução
social no sentido de desrespeito ao direito à vida, cuja proteção é de
competência do Estado”, explicou.
“Os orçamentos
públicos estaduais encontram-se quase totalmente comprometidos com a estrutura
de cargos e pagamento de pessoal, o que inviabiliza a contratação de mais
pessoal através da realização de novos concursos, mesmo que para áreas cruciais
como a Segurança Pública”, declarou a pesquisadora.
O caso
Na manhã desta terça-feira (26) o suspeito de cometer um
assassinato identificado como Wallison Silva Araújo, de 19 anos, foi linchado
até a morte por moradores do município de Araioses, a 408 km de
São Luís.
Segundo a
Polícia Civil, no domingo (24) ele matou a golpes de faca um jovem identificado
como Madson Araújo da Cruz, que não tinha passagens pela polícia. Um vídeo
mostra o momento em que Wallison desce do muro de uma casa e apenas dois
policiais tentam acalmar e conter a população.
Em outro vídeo
é possível ver o momento em que Wallison é cercado pela população fora da
residência. No local ele é chutado e esfaqueado por várias pessoas diante da
viatura da PM e dos policiais.
Por motivos de segurança, a polícia teve ainda que retirar de
Araioses a família de Wallison. O novo endereço dos parentes é
mantido sob sigilo e o delegado da cidade diz que a ação policial foi para
evitar mais crimes contra a vida.
Fonte: G1 MA
Fonte: G1 MA